6 de fev. de 2009

Histórias de Edgard Parte I

Durante a leitua ouça: October - Evanescence
Histórias de Edgard Parte I
Março de 1999
Naquela época eu fui obrigado a mudar de escola devido ao emprego de meu pai, a multinacional que ele trabalhava iria mudar de cidade e como dependíamos do dinheiro eu, minha irmã Carla, e minha mãe Helena tivemos de acompanhar meu pai. Pelo que ouvia pelas portas as conversas daqueles adultos, a situação financeira em casa não estava nada boa, por isso, meu pai não poderia deixar o emprego. Obviamente tivemos de mudar de escola, eu ia para a 4° série. As primeiras semanas de aula já começaram de uma forma muito conturbada, seja pelo fato de ter entrado duas semana depois do início, seja pelo fato de ninguém ter ido com minha cara, principalmente a turma do Fred. Aquele típico grupinho de bagunceiros composto por 4 meninos mal encarados que não querem saber de nada a não ser atazanar os outros. Nunca irei me esquecer o rosto tão horrendo deles.
Eu sempre passava longe da turma do Fred principalmente nos recreios, era o momento de terror pra mim, Fred e sua gangue saiam pelos corredores a fora procurando sua próxima vítima. Eu sempre fiquei de canto meio escondido com receio de que acontecesse algo, claro que sozinho pois mesmo depois de um mês de aula as únicas pessoas que eu conversava era os professores e a diretora Clara, grande diretora que teve uma influência muito boa na minha vida.
O pobre menino sozinho já estava acostumado com toda a solidão e mesmisse que o acompanhava, em certo ponto seu único amigo era ninguém menos que a própria exclusão e solidão. Até o dia que eu conheci o Felipe. Aula de história e tínhamos que fazer duplas para responder alguns exercícios, a professora pareceu ler meus pensamentos e fiquei muito aliviado quando vi os seus lábios dizendo que as duplas seriam sorteadas, afinal caso isso não acontecesse eu iria sobrar, como sempre. Todavia o medo tomou conta de mim naquele momento pois corria o risco de fazer uma dupla com uns da turma do Fred e aí com certeza minha vida acabaria naquele colégio. Felipe foi minha dupla naquele dia, e também por muitos outros anos de minha vida. Após o primeiro contato logo estávamos conversando e fazendo os exercícios amigavelmente, Felipe foi o primeiro aluno que eu realmente conversara na escola.
Depois daquele dia eu e ele começamos a nos dar muito bem, sentávamos perto um do outro, fazíamos exercícios juntos e sempre estávamos nos escondendo dos corredores onde possívelmente a turma do Fred passaria.
Mas esse assustador encontro foi inevitável. Já tinha demorado pra acontecer afinal eu era o garoto novo da turma. Me lembro como se fosse hoje as fortes mãos do Fred, fui atacado logo pelo líder da gangue, me empurrando contra a parede e me dando um soco no estômago. E por que ele fazia isso? Naquela época pensava que era apenas pelo prazer se sentir o maioral ou pra roubar os lanches dos alunos, só mais tarde descubri que na verdade aquele garoto marrento se transformaria num monstro mais terrível ainda.
Naquele dia do incidente a única pessoa que pensei que estaria comigo não estava, claro que Felipe saiu correndo com medo, acho que eu também faria isso. Mas o problema é que depois disso ele se afastou de mim, tinha medo da turma também pega-lo, afinal ele era meu amigo.
Infelizmente Felipe se afastou definitivamente de mim e mais uma vez eu fiquei sozinho.
Os dias passavam rápido, mas as dores no corpo demoravam pra se cicatrizar. Foi assim durante o ano inteiro. Meus dias se resumiam em correr do Fred e sua trupe, disfarçar as marcas de pancadas que levava, ser chamado de nerd por sempre ser estudioso, ser sempre o resto nas aulas de educação física, além de ser o mais estranho da turma.
Aquele ano não foi nada fácil. Eu não podia conversar com ninguém, afinal meu amigo tinha me abandonado e caso contasse para meus pais o ocorrido ele iriam falar com a diretora Clara e assim a turma do Fred iria sofrer algum castigo e os resultado disso seria o Edgard virar um saco de pancadas eterno.
Mas se não bastasse isso, quando achava que nao poderia piorar mais, uma trauma muito profundo estava pra acontecer.
Formatura do ensino infantil, 4° série, eu estava todo bunito com uma roupa que minha mãe comprou. Mas por cima da roupa tinha uma espécie de beca que usamos durante uns discursos ilusitórios. A maldade da turma do Fred era tão grande que eles fizeram vários furos na minha beca. E quando eu fui buscar na sala a beca pra me vestir não reparei que estava toda picotada pois a expectativa de ver meus pais na platéia e de me formar era maior. O que aconteceu foi que quando entrei no palco todos aqueles imundos que estudaram na minha sala estavam rindo de mim, e logo todas aqueles pais não continham os risos devido a minha roupa. Foi uma das maiores humilhações que passei até hoje na minha vida. As lágrimas foram invitáveis e a vergonha e raiva foram tamanha ao ver a turma do Fred gargalhando de mim que saí correndo por aqueles corredores frios e vazios que tanto me fizeram sofrer em direção ao banheiro. E foi lá, no chão daquele banheiro que me transbordei no meu próprio choro onde o que eu mais queria era sumir daquele lugar e esquecer todas as pessoas que me cercavam. Eu era apenas uma criança ainda, mas tinha sentimentos de adultos, os mais deprimentes pesadelos de um adulto penetrava em minha mente naquele momento...Até que então por aquela porta vi entrar o Felipe ...E no mais sincero dos abraços e sem dizer uma só palavra apenas meus soluços eu pude perdoar aquele que a partir dali se tornava o meu irmão.
Eu não merecia ter passado por aquilo...não merecia...

1 Opiniões:

Anônimo disse...

Eu to achando tudo mto triste.
Ele era emo? Se tornou um?
Se matou mais tarde?


Mas ta demais a historia bru, parabens.